WM&A Ed. #7 - Bianca Faim
Olá, seja bem-vinda(o)!
Nesta edição do WM&A, temos o prazer de receber Bianca Faim, Diretora de M&A e RI da Arezzo&Co. para discutir o cenário transacional no setor de varejo de moda no Brasil, sua experiência pessoal e o crescimento da Arezzo&Co. neste mercado.
Em 2024, o setor de varejo de moda no Brasil espera transformações significativas, impulsionadas pela busca por soluções inovadoras em tecnologia, uma maior centralização no cliente e uma crescente competição por talentos.
A Arezzo & Co e o Grupo Soma decidiram se fundir, criando uma empresa de moda avaliada em R$ 12 bilhões. A nova empresa englobará 22 marcas, como Vans, Alexandre Birman e Schutz da Arezzo, e Hering, Farm e Animale do Grupo Soma.
Conte-me um pouco sobre o seu histórico pessoal e profissional, como você chegou aonde você está hoje e quais os maiores desafios que você enfrentou?
Bianca: Sou de Bragança Paulista, no interior de São Paulo, e aos 17 anos me mudei para a capital para cursar Administração de Empresas na FGV – vontade que surgiu ainda na infância. Durante a graduação, aproveitei ao máximo as oportunidades que a faculdade me oferecia: fui monitora de estatística, participei da empresa júnior FGV (consultoria composta por alunos da graduação), estudei na Sciences Po em Paris, pelo programa de intercâmbio da faculdade, e ainda fiz parte do quadro de honra da FGV por 4 anos. Gostar de aprender e me dedicar aos estudos me abriu portas para conquistar o meu primeiro emprego como estagiária no UBS, um banco de investimento Suíço.
Naquele momento, trabalhar no mercado financeiro era o objetivo da maioria dos alunos e a competição por vagas como essa era grande. Foram quase 2 anos de experiência que me trouxeram uma excelente base financeira e a compreensão de uma cultura focada em alta performance. O mundo corporativo me despertou interesse e, em 2015, iniciei a carreira corporativa na área de Relações com Investidores na BRF. Na sequência tive passagem por outras grandes empresas como JSL e JBS e, em 2021, fiz uma movimentação para a Arezzo&Co, na liderança das áreas de Estratégia e M&A e, depois de 2 anos, passei a integrar a diretoria de Relações com Investidores.
Foram muitos desafios ao longo da minha trajetória profissional, que me fizeram sair da zona de conforto e superar momentos adversos. Posso mencionar como exemplo o mais recente e talvez o maior de todos: a fusão da Arezzo&Co e Grupo SOMA – o maior M&A do varejo brasileiro dos últimos 12 anos – para a criação da AZZAS 2154. Esta oportunidade apareceu para mim apenas um mês após a minha movimentação para a diretoria de Relações com Investidores. Foi preciso equilibrar o alto nível de responsabilidade e exposição com o contexto estratégico da companhia. Tenho muito orgulho de ter feito parte desse momento, ao lado de um time dedicado e colaborativo, e tenho certeza de que, agora, novos desafios vão surgir na construção da maior plataforma de moda da América Latina.
Dentro do contexto brasileiro, quais são os setores que você vê como promissores para investimentos no próximo ano e por quais motivos?
Além do setor de varejo, no qual estou inserida, e que eu acredito que teremos um grande momento de crescimento, considero mais outros três setores.
Prospectos e setores com mais oportunidades em 2025
Infraestrutura
O primeiro é o de infraestrutura brasileiro por conta das oportunidades de melhoria no país, em transporte, saneamento e energia, por exemplo.
Agroindústria
O segundo que eu estou vendo de forma bem positiva é o da agroindústria brasileira, uma vez que apresenta possibilidade de melhorias significativas em relação à produtividade no campo, somada com a expectativa para aumento da demanda global por alimentos.
Saúde
Por fim, como uma terceira opção de setor, acredito que com o envelhecimento da população, associado ao aumento da conscientização sobre saúde e bem-estar e da modernização da medicina, haverá boas perspectivas de crescimento no setor da saúde no Brasil.
Comentário WM&A
Os processos de M&A estão crescendo no agronegócio. Segundo a consultoria Auddas, o interesse em M&A deve aumentar 20% este ano em comparação a 2023, com destaque para os setores de bioinsumos, beneficiamento de sementes e agritechs.
Apesar do crescimento, há desafios como a identificação de empresas adequadas para aquisição, muitas delas pequenas, médias e familiares, e a integração de culturas empresariais. Spinardi vê a fragmentação como uma oportunidade para transformar essas empresas em líderes do setor.
As consolidações são vistas como um caminho para o crescimento sustentável, elevando os padrões de operação e gestão do setor, impulsionados por grandes plataformas que são listadas em bolsa ou pertencem a grandes grupos listados.
Dentro do Grupo Arezzo&Co como vocês avaliam as oportunidades de aquisições e como buscam criar valor para os stakeholders?
Na Arezzo&Co, temos um time de M&A focado em análises quantitativas e qualitativas para oportunidades de aquisição. Em linhas gerais, após passar por um primeiro filtro do time alinhado ao C-Level, selecionamos as oportunidades que fazem sentido obter uma análise mais profunda. Nesse momento, são realizadas análises financeiras que incluem projeções futuras, valuation, cenários de sensibilidade, pesquisas a campo, análises de mercado e concorrentes, etc. O objetivo é ter um panorama completo para ser apresentado ao CFO e CEO e, posteriormente, ao comitê de Estratégia e Conselho de Administração da companhia.
É importante pontuar que a estratégia inorgânica da Arezzo&Co se tornou um alicerce importante de crescimento da companhia nos últimos anos. Todos os negócios selecionados estão relacionados à nossa cultura e ao nosso propósito de interpretar tendências e despertar desejos. Começamos nossa trajetória de M&A em 2019, com o licenciamento da marca VANs e, logo na sequência, em 2020, com a aquisição do Grupo Reserva. Nestes quatro anos, potencializamos e muito as sinergias com a companhia e elevamos significativamente o potencial de crescimento das nossas novas brands.
Ao olhar para trás, como você identifica as competências chave que contribuíram para seu sucesso profissional? Houve alguma habilidade específica que você teve que desenvolver ao longo do tempo?
Acredito que habilidades técnicas são importantes, mas isoladamente não definem o sucesso profissional. É preciso ter disponibilidade e comprometimento com as entregas desde o início da carreira, independentemente do seu cargo. O senso de responsabilidade e a busca pela excelência foram essenciais para a construção da minha jornada profissional.
A construção de bons relacionamentos, sobretudo com meus gestores, foi e continua sendo algo de muito valor para a minha vida pessoal e profissional. Com exceção ao meu primeiro estágio, todas as demais movimentações que fiz foram consequência de indicações de antigas lideranças. Todos esses profissionais foram muito importantes para a minha carreira e hoje, como líder, também busco incentivar essas relações com o meu time.
Quais são os valores fundamentais que orientam suas decisões profissionais?
A vontade de superar desafios e a paixão pelo meu trabalho me movem diariamente. Além disso, acredito muito no poder da coletividade. Estar em um ambiente confiável, em que há espaço para o compartilhamento de ideias, é fundamental para que as pessoas se sintam motivadas a crescer e evoluir juntas. Estes valores são imprescindíveis para o sucesso de um time.
Qual mensagem você enviaria para as mulheres que se inspiram em seguir seus passos no mercado financeiro? Quais conselhos você daria a elas para se destacarem e alcançarem o sucesso nesse campo?
Conforme você cresce profissionalmente e assume mais responsabilidades, as soft skills se tornam mais relevantes que as hard skills, isto é, o comportamento vai ser mais importante que a visão técnica. Por isso, é importante não negligenciar habilidades como as de liderança, negociação, capacidade de tomar decisões, entre muitas outras. Além disso, considerando que ainda há uma predominância masculina no mercado financeiro, é importante que as mulheres não encarem isso como um limitador ou obstáculo. Minha dica é: aposte no seu conhecimento, tenha confiança no seu potencial, mantenha-se comprometida e continue se capacitando ao longo da sua trajetória. Com paixão, dedicação e trabalho duro, imagino que conseguiremos abrir mais espaço e aumentar cada vez mais as lideranças femininas no setor financeiro.