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Na entrevista inaugural da WM&A, temos o prazer de receber Bruna Reis, Diretora de M&A e PE na Marsh, para discutir o cenário transacional na indústria de seguros no Brasil, sua experiência pessoal e seu crescimento no setor.
Em 2024, o setor espera transformações significativas impulsionadas pela busca por soluções inovadoras em tecnologia legada, uma maior centralização no cliente e uma crescente competição por talentos.
Globalmente, o aumento da inflação social resulta em aumentos nas perdas retidas e nas estimativas iniciais feitas pelos atuários, afetando também corporações que retêm riscos significativos sob franquias grandes e retenções auto-seguradas, contribuindo para reduzir a atividade de M&A no setor.
WM&A: Conte-me um pouco sobre o seu histórico profissional, como você chegou até aqui?
Bruna: Sou formada em administração de empresas pelo Mackenzie e tenho um MBA em finanças pela USP.
Iniciei minha trajetória profissional no mercado financeiro em 2007, no JP Morgan.
Antes de mudar para o mercado de seguros, trabalhei em Asset Management por cerca de 5 anos, onde fui apresentada ao mundo de M&A.
Em seguros sempre foquei em linhas financeiras, inicialmente na AIG. Hoje sou diretora da Marsh, responsável pela área de Private Equity e M&A.
Olhando para 2023, como você vê o cenário de M&A no Brasil?
O volume de fusões e aquisições acompanhou tendências globais e caiu no primeiro semestre de 2023 em relação a 2022, porém, mesmo com a atual instabilidade geopolítica, houve retomada no número de deals no segundo semestre, com foco em instituições financeiras, tecnologia, saúde e investimentos em energia.
M&A nos últimos cinco anos:
Houve um amadurecimento no mercado de M&A no Brasil, que hoje se mostra consolidado e com tendência de crescimento no médio longo prazo.
A retomada nas atividades pode ser impulsionada por fundos de Private Equity que estão iniciando um ciclo de desinvestimento. Essa fase, em conjunto com o alto volume de dry powder, principalmente de fundos globais, abre espaço para novos investimentos que devem manter elevado o número de transações.
Qual é o nível de adoção dos seguros de risco transacional no Brasil?
No Brasil o seguro de R&W foi lançado em 2014. Porém após algumas perdas significativas, o apetite das seguradoras diminuiu muito, deixando poucas opções de coberturas, baixa capacidade e altos custos.
Há também a possibilidade de colocar o seguro via apólices internacionais, porém as diferenças na legislação e a barreira da língua fazem com que seguradoras americanas e europeias tenham algumas restrições ao oferecer a capacidade para deals por aqui.
Qual o contexto internacionalmente?
Diante da turbulência com altas nas taxas de juros de todo o mundo, inflação global e problemas na cadeia de suprimentos acirrados pelo conflito na Ucrânia e outras tensões geopolíticas, em 2022 acompanhamos uma desaceleração significativa nas atividades de M&A, inclusive nos EUA.
Essa mudança no mercado americano liberou espaço para que seguradoras internacionais passassem a dedicar mais tempo estudando os mercados do Brasil e América Latina, que ainda têm um espaço enorme para crescimento.
Hoje já existem seguradoras internacionais oferendo cobertura para riscos trabalhistas e tributários, que eram exclusões absolutas até o final de 2022.
Observação WM&A👇
Como o mercado de seguros se comportou no quarto trimestre de 2023 em linhas de negócios-chave, incluindo Automóvel, Casualty/Responsabilidade, Cibernético, Diretores e Executivos e PropriedadeSource AON
Como a adoção de seguros impacta compradores e vendedores nas operações?
A redução nas taxas e nas franquias das apólices
Torna o seguro mais atrativo tanto para comprador quanto para vendedor. Não só no Brasil, como na América Latina, 2023 tem sido um ano recorde no número de cotações e colocações do seguro de R&W.
A transferência do risco do passivo oculto das transações para a seguradora
Elimina incertezas e facilita a negociação entre comprador e vendedor, muitas vezes viabilizando deals que estavam parados por falta de consenso entre as partes em relação às formas de mitigação desses riscos.
O seguro de R&W traz vantagens para ambas as partes, incluindo a possibilidade de uma saída limpa para o vendedor e a proteção do comprador em relação a uma fraude em potencial do vendedor.
Observação WM&A👇
RWI protege a parte segurada contra perdas financeiras resultantes do descumprimento das R&Ws feitas pelo vendedor ou pelo alvo sob o acordo de compra.
Empresas e advisors têm sido motivados a buscar alternativas para a alocação tradicional de riscos pós-fechamento na América Latina devido à crescente complexidade das transações, ao número de transações regulatórias ou ordenadas por tribunais e desinvestimentos em dificuldades, à maior sofisticação dos investidores passivos que não estão dispostos a assumir riscos diretos e à natureza mais competitiva dos processos de leilão globais.
O que tem atraído os investidores internacionais ao Brasil em 2023?
Alguns fatores auxiliam percepção positiva e favorecem a entrada de recursos:
A antecipação no ciclo de aumento de juros em relação ao FED e sinais cautelosamente positivos da retomada da economia brasileira, enquanto países ao redor do mundo inda estão vivendo a fase crítica da crise.
A demanda por investimentos em setores como energia, óleo e gás também atrai investidores internacionais com promessas de retornos maiores do que podem ser alcançados em seus países.
Qual sua mensagem para as mulheres que se inspiram em seguir seus passos em M&A?
Não tenha medo de inovar e não se esconda. É comum que em ambientes predominantemente masculinos, o que ainda é comum em cargos de liderança em M&A, mulheres pensem duas vezes antes de expor novas ideias e defender com veemência suas opiniões.
É importante entender que se impor muitas vezes faz parte do trabalho e que isso pode ser feito pela mulher sem que ela tenha que masculinizar seu comportamento ou como é vista.
O ambiente corporativo tem mudado e a tendência é que as empresas foquem cada vez mais na capacidade e qualificação de seus colaboradores do que no seu gênero, mas muitas mulheres ainda enfrentam barreiras de entrada e crescimento profissional mais lento quando tentam ingressar no mercado financeiro.